O chocolateiro premiado que trabalha em uma pequena oficina com máquinas improvisadas

Mestre Chocolateiro Ben Rasmussen dosando chocolate em fôrmas com sua temperadeira de chocolate

 
Ben Rasmussen é um mestre chocolateiro que transforma sementes de cacau em chocolates premiados internacionalmente. Ele faz isso utilizando equipamentos improvisados em uma garagem absurdamente pequena.
 

Um foco bem definido: extrair o máximo dos sabores dos grãos de cacau e levá-los ao mundo

O processo de fabricação da empresa de Ben, Potomac Chocolate, é todo artesanal. O seu objetivo é extrair os sabores únicos de cada tipo de grão de cacau que ele utiliza. Para atingir esse objetivo, Ben utiliza apenas dois ingredientes: cacau e açúcar. Ele não acrescenta nenhum tipo de emulsificante, conservante, manteiga de cacau ou leite em pó no chocolate.
 

Mestre Chocolateiro Ben Rasmussen com sua temperadeira de chocolate
Ben Rasmussen contando sobre sua fábrica

 
O objetivo de Ben com o chocolate é bem claro. Por essa razão, ele não tem intenções de acrescentar frutas ou castanhas em suas barras, por exemplo. Para ele, misturar outros sabores com o chocolate é uma outra arte em si própria. Assim como fazer trufas e bombons.

Essa é uma filosofia de trabalho bem diferente do Chef Chocolatier Norman Love, onde toda a sua arte reside na combinação de outros sabores com chocolate.
 

Como é o processo de fabricação dos chocolates do Mestre Chocolateiro Ben Rasmussen

O chocolate de Ben é feito em pequenas bateladas, em um processo completamente artesanal e bastante trabalhoso. Tudo isso é feito com o objetivo de fazer um chocolate que expresse os sabores contidos nos grãos de cacau. Para ressaltar o sabor do cacau e torná-lo protagonista na experiência, Ben faz apenas barras de chocolate sólidas. Sem adição de recheios ou inclusões.
 

Barra de Chocolate Bean-to-Bar em formato exclusivo da Potomac Chocolate
Barra artesanal com acabamento exclusivo da Potomac Chocolate

 

O processo da Potomac Chocolate mudou e evoluiu conforme Ben aprendia mais e mais com o passar dos anos. Segundo Ben, não existem muitos equipamentos para fazer chocolate disponíveis para pequenos produtores. Por isso, ele resolveu construir e adaptar a maior parte das suas máquinas.

Tudo, desde o torrador, descascador e moedor de sementes de cacau, até sua mesa vibratória foram feitos de maneira improvisada. Só para você ter uma ideia, o moedor de Ben foi projetado para trabalhar com arroz e lentilhas, mas ele adaptou o equipamento para trabalhar com nibs de cacau. A única máquina que foi feita para trabalhar com chocolate na oficina de Ben é sua temperadeira de chocolate.

O processo de fazer chocolates de Ben torna o chocolate da Potomac uma verdadeira iguaria:

1. A Separação Manual das Sementes de Cacau

Após receber os grãos do seu fornecedor, Ben faz uma seleção manual das sementes secas e fermentadas. O objetivo dessa etapa é remover qualquer material que não seja cacau — galhos, pedras, folhas, etc. — e também sementes que não estão em condições perfeitas para uso (quebradas, esmagadas ou grudadas umas nas outras). O objetivo dessa rígida seleção é garantir que somente a melhor matéria prima seja utilizada no processo de fabricação do seu chocolate.
 

Separação manual das sementes de cacau
Ben separa as sementes de cacau uma a uma

 

2. A Torra dos Grãos de cacau

Muito do sabor de um chocolate verdadeiramente perfeito vem da torra da semente do cacau. Essa etapa é fundamental para elevar os sabores das sementes ao seu auge. É também o primeiro ponto onde Ben assume o controle de como seu chocolate ficará no final do processo.

Durante a etapa de torra, muitas coisas estão acontecendo dentro da semente de cacau. Dentre elas, a principal é o desenvolvimento dos seus sabores. Cada tipo de grão requer um perfil diferente de torra para extrair seus melhores sabores. Por isso, quando Ben começa a trabalhar com um grão de origem nova, ele faz vários testes para desenvolver o melhor perfil de torra para aquele grão.

Outro fenômeno que ocorre durante a fase de torra é a eliminação do ácido acético, resultado natural do processo de fermentação dos grãos. Além disso, a umidade dentro dos grãos também é reduzida, deixando as sementes de cacau ainda mais secas.

Uma peculiaridade no processo de torra da Potomac é que Ben utiliza um torrador de cacau improvisado. Ele montou um tambor furado dentro de um pequeno forno de convecção e fez um sistema externo para girar esse tambor utilizando uma furadeira, correntes e rodas. Conforme o tambor gira, as sementes do cacau são movimentadas, resultando em uma torra consistente e uniforme. Um verdadeiro gênio.
 

torrador-de-graos-de-cacau-rotativo

 

3. Quebrando e descascando as sementes de cacau

Depois de torrados, os grãos de cacau precisam ser resfriados para interromper o processo de cozimento, e trazer o grão para uma temperatura em que ele possa ser quebrado e separado das cascas.

Para fazer chocolate, nós precisamos apenas das nibs de cacau. As nibs são a parte interna dos grãos, e são a parte que será refinada posteriormente para se tornar chocolate. Como você deve imaginar, Ben também construiu uma máquina para quebrar e separar as nibs de cacau das cascas.

Essa máquina utiliza um espremedor de frutas para quebrar as sementes, separando grosseiramente o grão da casca. Em seguida, a semente passa por uma série de tubos de sucção que sugam somente as cascas, por serem mais leves que os grãos. Ficou difícil de imaginar? Assista o vídeo abaixo para entender como a máquina funciona:

 

4. Moagem e refinamento

As nibs, depois de separadas, precisam ser moídas para se tornarem uma massa líquida, também conhecida como liquor de chocolate. Para fazer isso, é necessário utilizar uma máquina especial chamada Melanger. Essa máquina nada mais é do que uma cuba de inox com duas rodas grandes de granito. Conforme a cuba gira, as nibs são esmagadas e moídas pelas rodas.

Esse liquor em seguida é misturado com açúcar, e o chocolate continua refinando até as partículas de cacau e açúcar estarem abaixo do tamanho que a língua humana pode detectar (entre 15 e 25 microns). Esse refinamento dá ao chocolate sua famosa textura lisa, aveludada e macia.

 

5. Conchagem

Após o refinamento, ainda podem existir muitos sabores adstringentes e desagradáveis no chocolate, que precisam ser removidos através de um processo chamado conchagem. Esse processo envolve agitar, aerar e aquecer o chocolate para remover esses sabores ruins, que podem impactar na qualidade final do produto.

Esse processo pode ser realizado dentro da própria Melanger, e pode levar entre dois a cinco dias para ser concluído. Contudo, você já deve imaginar que Ben tem sua própria solução para realizar a Conchagem:

 

6. Envelhecimento

Depois de conchar seu chocolate, Ben costuma deixar seus chocolates envelhecerem em grandes blocos sólidos. Segundo ele, logo após o refinamento e a conchagem, os sabores do chocolate ainda estão pouco desenvolvidos e sem graça. Depois de um tempo envelhecendo, eles se tornam mais distintos e profundos.
 

7. Temperagem e Moldagem

Antes de ser moldado em fôrmas, o chocolate precisa ser temperado. O processo de temperagem é uma arte complexa e é parte fundamental para ter um chocolate de qualidade. Essa etapa é responsável por dar ao chocolate um aspecto brilhante, resistência ao calor e firmeza — um chocolate bem temperado emite um leve estalo ao se partir. Nós exploramos mais a fundo o processo de temperagem neste guia especial.
 

É realmente um processo longo e demorado…

Tudo isso parece exigir um enorme esforço e trabalho de Ben, e a verdade é que exige mesmo. Ele dedica uma boa parte da sua vida investindo em estudos e estrutura para desvendar os mistérios do chocolate, mas no fim, vale à pena, afinal, Ben é completamente apaixonado pelo o que faz.